Carla Labate é professora de Yoga, com 11 anos…
Mês passado Rita Lee fez sua passagem pra outro plano. Acho que ela tava bem preparada pra voltar pro lado de lá. O lado de lá é o que somos, afinal. Aqui é uma bagunça divertida.
Resolvi comprar seu último livro Outra Biografia – devorei em dois dias. Nunca na vida li um livro tão rápido. Me senti toda intelectual. Dessas pequenas conquistas meio toscas que faz nosso ego se achar.
O ponto é que a Rita me fez olhar pra diversas situações com uma humanidade ímpar. Ou par. Sei la, nunca entendi muito bem essa expressão.
Eu sei que enquanto Rita estava no hospital durante a pandemia, lutando contra um fuckingcâncer, eu estava em outro hospital, também durante a pandemia, acompanhando meu pai entubado na luta contra o fuckingcoronavírus. Mais de 2 meses direto, sem pausa, dia e noite lidando com aquela atmosfera estranha de hospital. Várias situações trágicas, horas depois se tornavam cômicas, algumas na mesma hora. Outras eram de fato horripilantes. Me vi com ela, rindo de coisas absurdas, lembrando da oscilação de humor e emoções em que hora eu me sentia a pessoa mais abençoada do mundo agradecendo a todos os profissionais de saúde, família, orações, conexões e tudo que é possível, e outras horas ficava puta da vida e baixava una persona non grata tosca que reclamava pacas por causa de cansaço, falta de sono, preocupação e de gente sem noção. Ainda bem que não durava muito. Lua e ascendente em capricórnio é foda, a gente se cobra pra cacete.
A Rita passeia pelas faixas alquímicas com uma destreza incrível. Vai do marrom ao azul num salto. A bicha é cheia de cor mesmo. Fala todas as línguas e te deixa à vontade pra ser de verdade.
Eu sei que as histórias dela me acenderam um barato muito bom, me lembraram de mim mesma, e me inspiraram a vir aqui escrever um pouquito, talvez ainda mais próxima do jeito que eu sou.
Porque eu tenho um espírito meio crazy Rita Lee. Aff, que ousadia falar isso. Espero alcançar uma fagulha do que tu alcançou Santa Rita (de Cassia?). Mas eu me vejo muito em várias facetas dela. Uma esotérica meio lueca, com pouca paciência pra coisa fútil. Que tem dias que acorda e não quer olhar na cara de ninguém, braba com injustiça, que acha a humanidade uma catástrofe, os políticos todos uns merdas, o circo místico uma baboseira, os intelectualóides uns arrogantes pentelhos, a maioria dos religiosos cheios de preconceitos e prisões mentais, e os enjaulados em evidências científicas uns coitados que deviam escutar o que os ancestrais e esotéricos já dizem e fazem há milênios.
Essa minha persona não faz questão de agradar muita gente, e a verdade é que as pessoas mais próximas é que realmente conhecem esse meu dark side of the moon – vou botar a culpa no meu mapa astral que me enfia numas cavernas quando bate esse personagem pocas idéia (sotaque paulista é um desastre).
Talvez seja uma auto-preservação na era do cancelamento. Ah, eu me poupo. Você devia fazer o mesmo. É de graça. Não é sobre não se posicionar, é sobre guardar energia pra conversar com quem realmente tem diálogo. Quem não quer abrir a mente, não escuta nada. Deixa que a lei do Cosmos trabalhe, essa é infalível.
Mas ao mesmo tempo, me habita também uma alma que tem compaixão por Deus e o mundo, que busca enxergar a essência de todos os seres, que é defensora dos animais desde que nasceu, que quer salvar todos os cachorros, gatos, pássaros, os ursos, touros, porcos, a Amazônia, as geleiras, os oceanos, que quer aprender e compartilhar consciência, Meditação, Yoga, Tantra, Cabala, Geometria Sagrada, que estuda profunda e loucamente em busca do autoconhecimento pra ajudar criar um Mundo melhor, e acredita em anjos, aliens, fadas, gnomos, elfos, sinais do universo, seres de luz, orixás, Mestres Ascensos, tarô, xamanismo, Reiki, Ciências Ocultas, Ordens Iniciáticas, todas as conspirações, realidades paralelas, buracos negros, dimensões… a lista é muito longa. Eu poderia ficar horas aqui. Eu acredito em tudo. Eu nunca poderia ser um ateu – eu não sei porque mas eu gosto mais dessa palavra no masculino. Ateia, que seja, eu nunca poderia ser, porque eu acredito em tudo. Menos em algumas pessoas.
Mas viu, Rita, eu também faço a oração da Grande Invocação todos os dias, de vez em quando toco violão e canto as músicas que componho pelada no banheiro pra aproveitar o reverb natural, e também acredito que tudo tem alma, bichos, cristais, plantas, elementos, eletrônicos. Então tento ter uma boa relação com as coisas ao meu redor. Santa Magna Cabalá – (escrevi com acento no lugar errado de propósito pra dar a entonação que eu quero. Se a Rita o faz, eu também posso) – que me mostrou que eu tava certa. É tudo cheio de vida mesmo!
Eu acho uma baita sorte (ou carma, dharma, merecimento) que eu sempre fui a Ovelha Mística da família. Nos dias seguintes da passagem de Rita, brotaram vários vídeos icônicos dela. Eu vi uma sequência maravilhosa deles e enviei pro Kim. A resposta dele foi “Mano ela é tua cara. Almas gêmeas. kkkk”. O Kim me conhece como ninguém. Provavelmente melhor do que qualquer outra pessoa encarnada. E por isso eu to aqui me gabando dele me achar a cara de Rita Lee. Prepotência total minha continuar repetindo isso. Mas foda-se (to abusando um pouco dos palavreados nesse texto pra trazer a veracidade de como eu falo na vida real. Mais Lee, menos Zen. Que é a personagem que mostro mais nos vídeos que eu tenho postado.)
Isso é outra coisa inclusive, acredito que a gente tem vários personagens dentro de nós. Que a gente vai lapidando, conhecendo, expressando. Uns duram a vida toda. Outros valem ser cancelados. Mas isso é papo pra outra hora.
Que eu me conecte com o melhor dessa figura complexamente simples e simplesmente complexa que é Rita Lee, e que com certeza deixou um belo rastro de Luz e Arte no nosso planeta. Gracias Rita. Que você esteja felizona com a Fonte.