Eu atravessei o véu da névoa branca
e não voltei mais.
Era uma mistura do verde das plantas com a sensação de sonho que trazia o nevoeiro.
Um instante,
alguns passos
e eu já não sabia mais em que tempo estava.
Acreditei que circular o chi me abriria caminhos pra chegar onde eu queria.
Pois abriu.
Após me perder por entre as matas, me encontrei.
Dei de cara com a entrada de uma gruta que me convidou pro mundo intra terreno
e com um misto de adrenalina e confiança pedi permissão aos elementais pra estar ali
e estive.
Caminhei no silêncio ensurdecedor de dentro da terra.
Meus pés a massageavam gentilmente a cada passo.
Eu só escutava minha respiração.
Me sentia observada.
Eis que o Alto me chamou.
Olhei pra cima e me vi dentro da gigante espiral ascendente.
Meu suspiro de reverência me entregou.
O riso veio sem vergonha do sentir que o arrepio da pele dizia.
Eu ouvia os cavalos e sentia a presença das capas dos Iniciados.
O nevoeiro não era mais daquele plano e as paredes num tempo diferente viravam gelatina.
Os mantras dos ritos conectavam o céu e a terra.
Uma gota do fractal de presença Divina me inundou.
Sentei pra observar.
Cantei ieoua.
Por um instante quis que meus olhos físicos pudessem ver.
Mas vem do ego esse querer?
Impressionante como a gente oscila, entre a visão mundana e o olhar de cima.
Sabia que eles sabiam. Os Magos daquele recinto.
O trabalho está sempre acontecendo.
Ofereci a humilde intenção de colaborar com minha pequena existência.
Aqui estou.
As vezes desperta, outras vezes nem tanto.
Descobri que a gente pode subir mas também pode descer os degraus de consciência.
Escolhi subir.

Carla Labate

(2019 – Quinta da Regaleira – Sintra – Portugal)

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